Qual a função de um Conselheiro de Administração?

Não é fácil tomar uma boa decisão, quando se está num cargo que tem o poder de tomar decisões, como o de Conselheiro de Administração, principalmente quando as nossas decisões podem impactar, negativamente, a organização, os colaboradores e a sociedade. Uma decisão tomada de forma impulsiva e emocional pode levar ao chamado efeito manada, que se refere a um comportamento irracional com desvios de pensamento lógico e tomada de decisão emocional e pessoal.

Uma maneira do Conselheiro de Administração evitar o efeito manada, é desenvolver sua inteligência, buscando se munir de conhecimento sobre o negócio, pesquisa, disciplina e, sobretudo paciência quando precisar tomar decisões que podem impactar significativamente os negócios.

Em todos esses anos, atuando diretamente como Conselheiro, aconselhando as organizações a amadurecem sua governança, percebo que o meu DEVER, enquanto Conselheiro de Administração incluem diligência, lealdade, dever de informar, dever de confidencialidade, que formam o meu norte do ponto de vista da minha responsabilização com todos os Stakeholder, que eu assumo ao aceitar o poder de alguém, para definir o futuro do negócio.

E essa percepção de amadurecer a Governança dessas organizações, deve se fazer presente, pensando no coletivo, a fim de evitar situações como:

  • Efeito manada, sendo mais fácil ficar na zona conforto
  • Sufocar discórdias existentes, forçando “consensos”
  • Resistir a ideias novas que venham de fora do grupo
  • Excessiva valorização da autoestima coletiva
  • Alta tendência a justificar erros e omissões tornando o grupo vítima de terceiros.
  • Criar triangulações
  • Não aceitar a própria falha e culpar alguém ou um fator externo.

Além do coletivo, há situações que abarcam o individual, quando existe, por exemplo:

  • Muito otimismo e/ou excesso de confiança
  • Apego a projetos ou ideias ultrapassadas
  • Subestimar a probabilidade de acontecer desastres
  • Foco limitado ao “que é conhecido”, preferindo a zona de conforto
  • Valorizar excessivamente ideias externas, especialmente aquilo que está na moda
  • Fazer promessas irrealistas
  • Culpar terceiros (internos e externos) por insucessos, sendo considerado sempre uma vítima.

Todos estes vieses, tanto coletivos quanto individuais, atrapalham uma boa tomada de decisão. Por isso é importante que o Conselheiro aprenda a reconhece-los, a fim de identificá-los e corrigi-los.

Conselheiro de Administração, ao aceitar esta missão, tem os seguintes deveres:

  • Obrigação fiduciária: Responsabilidade solidária para com a organização, independentemente do sócio, grupo acionário, administrador ou parte relacionada que o tenha indicado para o cargo.
  • Dever de diligência: Atuação pautada por embasamento técnico e isenção emocional e financeira, sem a influência de quaisquer relacionamentos pessoais e profissionais.
  • Dever de lealdade: Preservação e criação de valor para a organização como um todo, observados os aspectos legais e éticos envolvidos.

Portanto, um conselheiro sempre estará diante de dilemas e escolhas, devendo agir sempre com muita responsabilidade, tendo a consciência que é um agente de transformação em um ambiente de incertezas. Claro que ninguém nasce sendo um conselheiro de administração.

Contudo, as competências e capacidades necessárias podem ser adquiridas ao longo da vida de cada um de nós. Aliás, elas podem e devem ser usadas para desempenhar qualquer cargo, independente da hierarquia da organização. Afinal, boa conduta, sensatez, ética, são valores que só têm a agregar em nossa carreira profissional.

Entenda o papel do Conselheiro na Organização

Toda grande organização que preza por uma boa governança corporativa possui um conselho de administração. Esse é formado por pessoas que possuem papéis bem específicos. O primeiro deles é saber delegar e monitorar o poder que lhe foi dado. O que pode ou não ser feito, o que regulamenta este poder, se está delimitado no estatuto social da organização.

Se o conselheiro recebe o poder, ele tem que prestar contas aos acionistas, diretores e toda parte interessada do que está fazendo com ele. Daí vem a ideia de responsabilidade que todo conselheiro tem. Outro papel é moderar e direcionar os conflitos de interesse, de forma isenta. Assim, o poder que um conselheiro exerce é de moderador, de busca de equilíbrio para que a organização cumpra com seu direcionamento estratégico.  

Por fim, outro papel importantíssimo do conselheiro é decidir, monitorar e aconselhar tudo o que diz respeito ao modelo de negócio, geração de valor e modelo de governança da organização. Portanto, um conselho de administração é essencialmente um fórum, o centro de um sistema de governança, porque ele deve ser a arena onde deve ser dada a construção do direcionamento estratégico da empresa.

Quais habilidades o Conselheiro de Administração precisa?

A inteligência é uma das formas de como o indivíduo é dotado e que ao longo da vida pode desenvolve-la e aperfeiçoa-la, já que temos plasticidade neural. Claro, que desenvolver e aprimorar as habilidades e competências dependem muito do nosso querer e fazer. Portanto, deve ser um processo consciente, a fim de compreender as suas deficiências para que você buscar pelo aperfeiçoamento.

Por isso, no meu ponto de vista como Conselheiro de Administração, não existe apenas um tipo de inteligência. Destaco aqui cinco tipos principais, fundamentais para quem trabalha em uma organização.

  1. Inteligência Financeira: você consegue se comunicar por meio de números e não só por palavras.
  2. Inteligência Estratégica: em relação a um determinado assunto, você é capaz de traduzi-lo em forma de estratégia, buscando uma solução.
  3. Inteligência Funcional: significa que você é capaz de se comunicar de forma clara com os outros e, mais importante, entender o que as pessoas estão tentando comunicar a você.
  4. Inteligência Relacional: é saber fazer e refazer a mesma pergunta – ou a mesma resposta – quantas vezes forem necessárias.
  5. Inteligência Cultural: você se sente capaz de ajudar a construir um ambiente melhor, quando percebe que algo não vai bem, dando sugestões e diretrizes que sejam frutos de diálogos entre diferentes pessoas.

E como eu disse anteriormente, independente de você ser ou não Conselheiro, você precisa ter consciência dos seus “déficit“, buscando se concentrar no seu desenvolvimento pessoal e profissional. Afinal, é você quem sai ganhando e não apenas a organização.

Competências e características de um Conselheiro

Basicamente, o foco deve estar voltado para o desenvolvimento de comportamentos e habilidades, tais como:

  • Alinhamento e comprometimento com os princípios, valores e código de conduta da organização a qual será conselheiro;
  • Visão estratégica;
  • Disposição para defender seu ponto de vista a partir de julgamento próprio;
  • Capacidade de comunicação;
  • Capacidade de trabalhar em equipe;
  • Conhecimento das melhores práticas de governança corporativa;
  • Capacidade de interpretar relatórios gerenciais, contábeis e financeiros e não financeiros;
  • Conhecimento sobre a legislação societária e a regulação;
  • Conhecimento sobre gerenciamento de riscos; e
  • Disponibilidade de tempo.

Governança corporativa, segundo o IBGC, “é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria e órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”. 

Desafios do Conselheiro na Governança

Eu divido os principais desafios de uma organização moderna em três grupos principais: governança, modelo de negócio e geração de valor.

Quanto à Governança, estão em demonstrar na prática a ética, integridade e conduta que a empresa possui; seguir com conformidade e transparência a conversão dos Princípios de Governança em processos e procedimentos; manter eficiência e eficácia em todos os processos, produtos e serviços; e saber mensurar os resultados. No que diz respeito ao modelo de negócio, o desafio é ter propósito claro, reconhecido e percebido socialmente. Por fim, na geração de valor, os desafios estão em gerar impacto social e econômico que seja mensurável e auditável, como também conseguir “mais impacto com menos recursos”.

Perpassando estes três grupos, existe também o desafio para implantar e manter uma cultura de inovação.

Neste sentido, destaco por exemplo a necessidade de possuir visões setoriais sobre tecnologias emergentes e novos modelos de negócio; questionar se a organização está pronta para o uso de IA, Blockchain e IoT; entender que, hoje, a diversidade é um diferencial competitivo; e que a inovação é fundamental para todo e qualquer negócio. Por fim, outro ponto essencial é considerar o papel das novas gerações na reinvenção da gestão dos negócios familiares.

Para que tudo funcione adequadamente, existem quatro princípios nos quais se baseiam a governança corporativa.

  • Transparência: disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam do seu interesse, e não todas as informações existentes.
  • Equidade: tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas. Não é tratar todo mundo igual.
  • Prestação de contas (accountability – ou responsabilização): prestar contas de modo claro, conciso, compreensivo e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões. Não é simplesmente fazer um relatório e acabou.
  • Responsabilidade corporativa: zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas.

Os pilares que sustentam este tipo de governança são:

  • Sócios (propriedade)
  • Conselho de Administração
  • Diretoria/Gestão
  • Órgãos de fiscalização e controle
  • Conduta e conflitos de interesse

Uma empresa só poderá ser sustentável se todos pensarem e trabalharem de forma sustentável. Ou seja, a sustentabilidade precisa estar no DNA da organização. E o Conselheiro tem muita responsabilidade em implementar essa visão, pois a cultura de uma organização começa pelos seus Fundadores. Isso parece meio óbvio, mas vejo que em muitas empresas, que se dizem sustentáveis, mas na realidade estão bem longe de serem.

Deivison Pedroza – Investidor / Conselheiro / CEO / Palestrante

           

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