As minorias sociais não são muletas

As minorias sociais não são muletas. Negros, indígenas, imigrantes, mulheres, LGBTQIA+, idosos, moradores de favelas, portadores de deficiências e moradores de rua. Hoje, quem se identifica com algum desses grupos é considerado minoria no Brasil. E por ironia das palavras, o que chamamos de minorias são, quantitativamente, a maioria da população.

De acordo com a psicóloga Viviane Mendonça, professora e coordenadora do Núcleo de Estudo de Gênero e Diversidade Sexual do campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), “não são minorias porque são poucos, mas porque possuem poucos direitos garantidos, pouca representatividade nas instâncias de poder e pouca visibilidade no cenário social. São sujeitos que em uma sociedade possuem pouca ou nenhuma voz ativa para intervirem nas instâncias decisórias de poder”.

Se você não se encaixa em nenhum deles, agradeça, porque você é privilegiado sim ao não fazer parte de nenhum grupo social excluído historicamente da garantia de direitos básicos e de representatividade.

Tá, mas por que estou falando de minorias aqui na Internet?

A Internet é um local que está dando voz para estes grupos socialmente excluídos. É onde elas conseguem aparecer, se destacar e ganhar espaço que muitas vezes não é possível na vida real (real apenas em oposição à vida virtual). É onde eles podem lutar pela igualdade de direitos, por mais direitos e pelas garantias daqueles já conquistados.

No entanto, existem alguns casos que não podemos fingir que não acontecem. Tem pessoas que fazem parte da minoria que se apropriam do discurso de exclusão social para tirar proveito próprio. Por exemplo, uma mulher que, simplesmente por ser mulher, acredita que deve estar no cargo de diretora de uma empresa, mesmo sem ter qualificação nenhuma para a função.

E tem casos muito piores…

Existem pessoas que definitivamente não são minorias. Mas, se valem da oportunidade que elas podem ter em alguma situação para tirar vantagens para si mesmas. Cito mais um exemplo: as pessoas que são brancas, e não existe dúvidas de que são brancas – embora sejamos um país miscigenado -, mas que para realizar um concurso público, ou para prestar uma prova de vestibular, se declaram pardas, para concorrerem com menos candidatos e assim, terem mais chances de aprovação.

A mídia, emissoras de televisão, marketing de grandes marcas, publicidade e redes sociais são outros exemplos de quem faz uso dos discursos sociais, muitos deles vindos da própria Internet, e adaptam as suas narrativas para atingirem esses grupos minoritários, criando mensagens direcionadas com intuito de otimizar as vendas.

Na maioria das vezes, a impressão que elas passam é que as Marcas querem ajudar na causa. Mas, será? Discurso e Atitudes nem são coerentes na prática!

Mas, na verdade, o objetivo é só fazer com que o consumidor compre, já que elas veem uma oportunidade de expandir seu mercado ao dizer que compactuam com as lutas das mulheres, negros, homossexuais, etc.

Muitas empresas também estão tentando incluir as minorias sociais em seus quadros de funcionários.

Vemos isso principalmente quando se busca cumprir os indicadores ESG, que dizem ao mercado se uma empresa é sustentável ou não. Claro que existem interesses financeiros em apoiar a inclusão social, até porque ser sustentável e socialmente responsável hoje é extremamente vantajoso.

Então, por um lado, vemos mais mulheres, negros e LGBTQIA+ ocupando cargos de liderança em organizações. E isso representa um avanço gigantesco em termos de representatividade e poder de voz dessas minorias.

Por outro lado, sabemos que isso só vem acontecendo porque é uma resposta ao mercado, que exige que haja mais mulheres, negros e LGBTQIA+ nessas posições de destaque. Então eu pergunto: existe uma maior conscientização e conquista real de direitos ou é só mais um cumprimento de um item de um enorme checklist?

Hipoteticamente, se o mercado passasse a exigir que estes cargos começassem a ser ocupados por jovens de 25 anos, brancos e héteros, porque assim a empresa terá mais lucro, será que o discurso das minorias ainda seria levado à sério, será que tudo o que foi conquistado até hoje continuaria a ser levado em conta e se respeitaria os cargos com mulheres, negros e LGBTQIA+? Será?

A luta por direitos e garantias básicas: são as responsáveis pelo avanço de uma sociedade saudável

Dei apenas alguns exemplos aqui, mas no dia a dia podemos ver vários casos de usos errados de questões tão sérias. As lutas por direitos e garantias básicas são muito válidas e importantes, porque são elas que permitem o avanço de todos nós como sociedade. Contudo, elas não devem servir como justificativa de que “sua vida não vai para frente”, de que “tudo dá errado para você”, ou de que “você merece porque é minoria e pronto”.

Bom, o que quero dizer com tudo isso? Para mim, não adianta se apoiar nas lutas e debates travados com tantas dificuldades pelas minorias se você não faz a sua parte. Só lamentar as diferenças e dificuldades não resolve problema nenhum. Fingir ser algo que você não é também não soluciona nada.

Por isso estude, se capacite, enfrente de igual para igual e não fique esperando tudo cair do céu. Porque não vai cair. Infelizmente ainda estamos engatinhando quando o assunto são direitos e representatividade das minorias sociais, mas conquistas já foram obtidas. Temos que aproveitar as oportunidades sim, tendo em mente que as coisas só vão dar certo se nós nos dedicarmos a elas.

Quer fazer valer seus direitos? Então corra atrás e faça a sua parte.

Não use questões sérias como muleta. E isso vale mais ainda para você que faz parte do grupo privilegiado da nossa sociedade. E você, conhece histórias de pessoas que se apropriam das questões das minorias para buscarem benefícios próprios?

Qual a sua opinião sobre esse assunto?

Deivison Pedroza – Investidor / Conselheiro / CEO / Palestrante


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